quarta-feira, 29 de abril de 2020

Palavras Sentidas


"Para mim, as bibliotecas possuem sempre uma ambivalência estilo catedral, um santuário silencioso onde a aprendizagem é venerada, onde as pessoas elevam os livros e a educação ao nível da religião."

Não Desistas
Harlan Coben

sábado, 25 de abril de 2020

"A Bela e o Vilão" de Julia Quinn [Opinião]


Desde 2016 que não lia nada desta autora e confesso que nem sei como aguentei tanto tempo, uma vez que tinha este livro na estante, conseguido através de uma troca.

Andava a passar por uma fase de desmotivação em que quase não me apetecia ler e senti que precisava de uma leitura mais ligeira, fofinha e com muito amor pelo meio. Este sexto volume da série dos Bridgertons chamou de imediato por mim e não lhe resisti.

De facto, o livro cumpriu na perfeição o seu propósito e conseguiu animar-me. Em apenas duas tardes, devorei 200 páginas, o que foi um progresso gigante tendo em conta a minha falta de vontade de ler.

Neste romance, conhecemos a história de Francesca, uma das irmãs mais reservada e que mais aprecia o sossego. Sabemos que ela ficou viúva e os capítulos iniciais mostram-nos como tudo isso aconteceu. Confesso que as lágrimas me começaram a dançar nos olhos neste início tão emotivo.

[Fotografia da minha autoria]

Depois é-nos dado a conhecer Michael Stirling, um sedutor libertino que nunca entregava o seu coração. Mesmo que quisesse, não podia, visto que se apaixonara completamente por Francesca quando a conhecera, dias antes do seu casamento com o seu primo John.

Michael tem uma personalidade muito interessante, embora na verdade ele pouco tenha de vilão. É apenas um homem que tem de esconder a toda a força os seus sentimentos por uma mulher que lhe é inacessível. E o segredo perverso que a sinopse revela acaba por não ser nada de tão perverso assim. Michael é apenas um homem que tem de lutar contra os seus demónios interiores e usa a fachada de devasso e libertino para proteger o seu coração.

Gostei imenso da relação e de todo o companheirismo entre estes dois. Terminei o livro com um grande sorriso nos lábios e a sensação de que passei uma boas horas.

Este livro pode perfeitamente ser lido em separado, embora seja muito mais interessante ler a série na sua ordem.
Falta-me apenas conhecer a história de mais dois irmãos Bridgerton e, desta vez, não vou deixar passar tanto tempo.

Se apreciam romances de época, Julia Quinn é uma autora imperdível!

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Palavras Sentidas


"Cuidar do corpo é como cuidar de uma criança. Por vezes, é difícil. Por vezes, é uma treta e só queremos ceder, mas, se o fizermos, sofreremos as consequências 18 anos depois."

Verity
Colleen Hoover

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Desafio de Escrita dos Pássaros #2.10 | O observador


Tema: Não tenho tempo para te aturar.

     O observador

Ajustou os binóculos em frente ao rosto e dirigiu o olhar até à janela do apartamento do terceiro andar onde ela entrara há menos de dez minutos. Seguira-a cautelosamente, percorrendo toda a distância que separava o hospital onde ela trabalhava do apartamento no centro da cidade.

Era fácil passar despercebido. Fazia-o há semanas e, a cada dia que passava, tornava-se melhor.

Encontrava-se resguardado por entre uns arbustos. Se alguém passasse ali e estranhasse o seu comportamento, bastar-lhe-ia apontar para a máquina fotográfica e os binóculos, enquanto murmurava «pássaros» com um ligeiro sorriso. Ninguém estaria muito interessado num observador de pássaros.

Concentrou-se na janela onde julgou ver uma sombra. A noite ainda não começara a cair, pelo que ela não acendera as luzes. Viu o contorno do seu corpo atravessar lentamente a janela, da esquerda para a direita, em direção à casa de banho. Sabia que ela tomava banho sempre que chegava a casa do trabalho. Imaginou-a a despir-se. Será que o fazia na casa de banho, como quando viviam juntos? Ou passara a fazê-lo no quarto, percorrendo depois o pequeno corredor, nua, em direção ao duche?

Sentiu-se desconfortável e mudou a posição do corpo.

A verdade é que ela era uma ingrata. Dedicara-lhe quase dois anos da sua vida, submetendo-se a todas as suas vontades e venerando-a como uma deusa, e ela limitara-se simplesmente a descartá-lo. «O problema não és tu, sou eu. Preciso de tempo», dissera-lhe, «Preciso de me concentrar apenas no trabalho». E, num outro dia, numa discussão mais acesa, gritara-lhe: «Não tenho tempo para aturar as tuas crises de ciúmes».

Ingrata.

Depois de tudo o que ele fizera por ela, de todo o tempo que lhe dedicara.

Ciúmes…

Era assim tão errado querê-la só para si? Querer poupá-la aos olhares esfaimados dos outros homens que não conheciam a sua essência? Que apenas queriam possuir o seu corpo?

Segurou com mais força os binóculos. Sentiu na boca o sabor quente a metal. Mordera o lábio com tanta força que este começara a sangrar.

Voltou-lhe à mente a imagem dela nua, no banho, a água a escorrer-lhe pela pele e um sorriso de prazer a contornar-lhe os lábios.

Baixou os binóculos, furiosamente. As mãos tremiam-lhe.

«Se não podes ser minha», pensou, «não serás de mais ninguém».

Olhou para o relógio e enfiou os binóculos dentro da mochila. Do interior retirou uma pequena arma de metal. Prendeu-a no cós das calças e ajustou a casaca de ganga, de forma a que não se visse nada.

Atravessou rapidamente a estrada. Chegou ao prédio e tirou do bolso a chave. Sorriu. Ainda a tinha, embora já não vivesse ali há várias semanas.

Entrou descontraidamente, não fosse o caso de se cruzar com algum dos moradores. Subiu as escadas em passo rápido, só parando em frente à porta do apartamento dela.

Sem hesitação, bateu.

Ouviu a voz dela após alguns segundos.

— Quem é?

— Sou eu. — Olhou em frente, sabendo que ela estaria do outro lado da porta, a espreitar pelo visor. — Preciso de falar contigo.

Uma pausa, antes de ouvir novamente a voz.

— Acho que já não temos nada a dizer um ao outro.

— Por favor. Dá-me apenas cinco minutos. Deves-me isso.

Por momentos, não teve a certeza de que ela lhe abriria a porta, mas logo a seguir ouviu o barulho do ferrolho a ser retirado.

Levou a mão à arma, preparando-se.

No momento em que a porta começou a abrir-se, atirou-se contra ela, empurrando-a com o corpo e enfiando-se dentro do apartamento em menos de um suspiro.

Ela recuou, assustada. Antes que tivesse tempo de perceber o que tinha acontecido, ele apontou-lhe a arma, fechando a porta com o pé.

— Por favor... — gemeu ela.

Viu a cor fugir-lhe do rosto, ao mesmo tempo que se apercebia que ela usava apenas um leve roupão. Ia a caminho do banho.

Por um segundo, vacilou. Mas rapidamente se recompôs. Não, desta vez não iria ser escravo da sedução dela.

Deu um passo em frente.

— Acho que vais precisar de tempo para me aturar — disse.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Palavras Sentidas


"O entusiasmo era raro no trabalho de polícia, bem como negativo; regra geral, significava que a vida de alguém fora destruída."

O Homem dos Sussurros
Alex North

segunda-feira, 13 de abril de 2020

"Não Fujas Mais" de Harlan Coben [Opinião]



«O regresso do rei dos thrillers de grande suspense. Uma leitura que justifica ter o seu telemóvel desligado.»
Closer

Passei umas semanas um pouco desmotivada com a leitura e, para tentar animar-me, agarrei-me ao mais recente thriller de Harlan Coben, publicado em Portugal no início deste ano. Harlan Coben é um autor seguro. É aquele escritor que não deixo de admirar e que consegue agarrar-me à ação e às reviravoltas que imprime nos seus enredos.

Não Fujas Mais conta-nos a história de Simon Greene, um pai desesperado em busca da sua filha. Paige já não é a menina de quem ele se lembra. É uma mulher à beira do abismo, agarrada às drogas e a um namorado abusivo. Para Simon, só há uma coisa que ele pode fazer: percorrer o mundo em busca dela, não interessando se esse caminho é negro e perigoso.

Tenho de confessar que, embora tenha adorado o capítulo inicial (que é sempre fulcral para prender a atenção do leitor), tive alguma dificuldade em prosseguir nos capítulos seguintes, devido à desmotivação que me assolava. Contudo, após alguma insistência, a curiosidade intensificou-se e a história começou realmente a agarrar-me.

[Fotografia da minha autoria]

Há várias razões pelas quais eu admiro este autor. Uma delas é o humor e o sarcasmo que estão sempre presentes nos seus thrillers. Encontrei algumas personagens já familiares, nomeadamente o detetive Nap Dumas, protagonista do anterior romance do autor - Não Desistas.

Tal como acontece em todos os seus trabalhos, também aqui Simon terá de investigar o passado, de forma a descobrir o que fez a sua filha mudar e enveredar por um caminho tão perigoso. Assim, o autor conduz-nos habilmente por uma jornada em busca dos segredos do passado, passado esse que nunca fica enterrado.

Este livro aborda temas muito interessantes, tais como a genética, os testes de ADN, os cultos religiosos e a forma como estes se tornam perigosos para aqueles que acreditam cegamente.

Este foi o 15º thriller que li do autor e, apesar de não ter sido um dos preferidos, creio que conseguiu empolgar-me e devolver-me alguma da motivação para a leitura. Gostei especialmente do final e de conhecer a verdadeira identidade de uma personagem.
Não posso deixar de recomendar este livro aos fãs de thrillers e a quem procura ação, adrenalina e imensas reviravoltas.

Classificação: 4/5 estrelas

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Palavras Sentidas


"O passado define-nos, mas é quase sempre o instrumento da nossa destruição, se não o ultrapassarmos."

Conta-me o Teu Segredo
Dorothy Koomson

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Desafio de Escrita dos Pássaros #2.9 | A confissão


Tema: Tive uma ideia!

          A confissão

A compreensão atingiu-me durante a madrugada, em mais uma das minhas noites de insónias. Raramente conseguia dormir mais de três horas por noite. O medo não me deixava. Nem o roncar do meu marido.

Permaneci deitada, os olhos cansados fixos na escuridão. Percebi que chegara o dia. Por favor, não me julguem pelo que estou prestes a fazer. Por vezes, fazemos o que temos de fazer. Não pensamos. Só queremos sobreviver.

Após cinco tentativas falhadas para fugir dele, desisti. Ou pelo menos mentalizei-me de que não era capaz. Ele tornava-se mais agressivo a cada uma das minhas tentativas. Percebi que aquele não era o caminho e mostrei-me mais dócil, mais obediente. Ele recompensou a minha mudança. Deixou de me bater com tanta frequência e começou a deixar-me sair de casa com ele, em pequenos passeios.

Mas tudo mudou quando me deparei com uma nova oportunidade. Gostava de poder dizer que a ideia partira de mim. Gostava de me ter sentido iluminada. Gostava de ter sido eu a exclamar: «Tive uma ideia!».

Mas não aconteceu nada disso. A ideia não era minha. Mas podia salvar-me.

Naquela manhã, fiz a minha rotina habitual. Tomei banho e arranjei-me, fazendo questão de disfarçar o corte no lábio que ele me provocara duas noites antes e que ainda me doía. Ele não gostava de ver em mim as marcas das suas agressões.

Passei mais de duas horas na cozinha, tentando esmerar-me no guisado de cabrito e no bolo que apresentaria como sobremesa. Tinha de sair tudo perfeito.

Quando a mãe dele chegou, fomos almoçar. Como quase sempre acontecia, tornei-me invisível perante a atenção desmesurada que ele dava à mãe. Mas desta vez não me importei. Estava a esforçar-me ao máximo para que ninguém reparasse na tremura das minhas mãos.

O bolo de laranja e chocolate fitava-me, ameaçador, do alto da sua travessa. Ele sabia o que eu havia feito.

Assim que todos terminaram a refeição, levantei os pratos sujos da mesa e coloquei o bolo mesmo ao centro.

A minha sogra sorriu para mim e pediu:

— Parte-me uma fatia bem gorda, minha querida.

Obedeci. Não era um pedido estranho. Ela costumava adorar os meus bolos.

Contudo, desta vez senti-me aterrorizada. Não havia como voltar atrás.

Ela pegou no bolo com a mão direita e abocanhou quase metade da fatia, ignorando o garfo e a faca de sobremesa que eu colocara junto ao prato.

Tentei fechar os olhos mas não fui capaz. Era como se me tivessem arrancado as pálpebras.

Tudo aconteceu numa fração de segundos. Enquanto mastigava o grande pedaço de bolo, os seus olhos começaram a lacrimejar. Foi com horror que a vi agarrar-se à garganta, como se estivesse engasgada. Ou sufocada.

— O que se passa? — perguntou o meu marido, levantando-se bruscamente da mesa. — Mãe?

A reação dela era agora mais exagerada. Fazia ruídos estranhos com a garganta e os lábios começavam a inchar.

Ele olhou-me desconfiado, o ódio que eu tantas vezes vira no seu olhar. Levou à boca um pedaço de bolo do prato da mãe e identificou de imediato o problema.

— Amendoim — sussurrou. — Minha grandessíssima cabra!

Aproximou-se de mim e esmurrou-me, atirando-me ao chão. Por pouco não bati com a cabeça na perna da mesa, mas senti-me atordoada.

Vi-o agarrar a mãe, mais aflita a cada minuto que passava, e levá-la para fora de casa. Pouco depois ouvi o som do carro a afastar-se.

Levantei-me, ainda a tremer. Dirigi-me à casa de banho e vasculhei o cesto da roupa suja até encontrar a mochila que escondera no dia anterior. Era o único local da casa que ele não controlava.

Caminhei até à porta que dava para a rua e suspirei de alívio quando percebi que, com a atrapalhação de socorrer a mãe, ele se esquecera de a trancar.

Abri-a e contemplei a liberdade. Comecei a correr. Fugi sem olhar para trás. A minha visão toldava-se de lágrimas à medida que me recordava daquele dia, apenas duas semanas antes, em que a minha sogra me agarrara a mão, fixando-me o olhar e sussurrando, como se me desse uma ordem: «sou alérgica ao amendoim».

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Palavras Sentidas


"A maternidade não nos tornava mais fortes; fazia com que ficássemos vulneráveis e receosas por aquilo que a morte nos poderia arrebatar."

Lembranças Macabras
Tess Gerritsen