terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Antologia | "O Resto é Paisagem" de Vários Autores [Opinião]


Já aqui vos tinha apresentado a Antologia de Fantasia Rural O Resto é Paisagem, na qual tive o prazer de ver um conto de minha autoria ser publicado. Foi uma satisfação enorme estar no meio de tantos autores, alguns com bastante mais experiência do que eu em escrita.

Li todos os outros contos e, como leitora, também formei uma opinião de todos eles e fiquei com os meus preferidos.
Partilho então aqui a minha opinião a cada um dos contos desta Antologia, excetuando o meu, cuja opinião deixarei para os leitores!

"Rogos e Mitos" de Inês Montenegro (4*)
Um conto que aborda a temática dos incêndios e da devastação que ele causa às populações e aos locais por onde passa. A autora utiliza uma linguagem que aproxima o leitor do ambiente e das gentes da aldeia. Desta forma, sentimo-nos próximos, como se estivéssemos mesmo lá a assistir aos acontecimentos e à angústia sentida pelas pessoas neste momento de aflição indescritível. O final maquiavélico, e onde encontramos o elemento de fantasia, deixou-me com um sorriso perverso nos lábios. Gostei muito!

"O Prego no Portão" de João Ventura (4*)
Três amigos, estudantes de Direito, vão passar uns dias à aldeia onde vivem os avós de um deles. Durante as pausas ao estudo, aproveitam para conhecer a aldeia e algumas histórias populares que correm de boca em boca. Uma delas é a história do Prego no Portão, um acontecimento trágico que aconteceu, anos antes, na aldeia.
Gostei do conto, João Ventura é um bom contador de histórias e senti-me cativada desde o início. Contudo, esperava algo um bocadinho mais assustador, tendo em conta a temática que o autor introduziu. Senti, também, que o final foi um pouco abrupto, tendo-me deixado com vontade de mais.

"O Poço" de Simão Cortês (5*)
Esta narrativa super cativante dá-nos a conhecer Marta, uma pré-adolescente que se considera uma colecionadora de histórias do paranormal, na Pampilhosa da Serra. Corajosa e aventureira, não tem medo da noite e adora os mistérios e as criaturas que ela esconde. Quando o seu amigo Cláudio é encontrado morto, num poço abandonado, Marta decide que tem de investigar. Mas será que está preparada para o horror que irá encontrar?
Um conto assustador, capaz de nos provocar um arrepio na espinha, e que não consegui parar de ler até à última palavra. Bem escrito e com descrições muito bem conseguidas, este conto é uma delícia para os amantes de terror. Preciso de ler mais trabalhos deste autor! Um dos meus contos preferidos da antologia.

"O Espírito do Vento" de Lívia Borges (4*)
Roberto é o filho do moleiro. Vive na ilha de Porto Santo, gosta de números e ambiciona por uma vida melhor que não inclua trabalhar num moinho. Um dia, com um amigo, descobre uma misteriosa caixa, que guarda consigo, na esperança de ser capaz de descobrir o que ela esconde. Contudo, só muitos anos mais tarde é que o segredo será revelado ao neto de Roberto.
Gostei particularmente da escrita da autora, convidativa e agradável, e que mantém o interesse do leitor até ao final. Achei, contudo, alguns dos últimos diálogos pouco naturais em pessoas adultas, mas talvez tenha apenas sentido a falta de algumas descrições dos comportamentos e sentimentos das personagens ao longo das falas. Vale a pena ler!


"A Última Missa" de Raquel Cal (3*)
O Padre Figueiroa chega a uma nova paróquia e, enquanto se instala, começa a aperceber-se de coisas cada vez mais estranhas que acontecem naquela igreja.
Confesso que, quando, nas primeiras linhas, percebi que a personagem deste conto seria um padre, o meu pensamento resvalou de imediato para exorcismos. Porém, não foi esse o tema escolhido pela autora. Posso dizer que o conto tem algum suspense que mantém o leitor preso a cada palavra, ansioso por descobrir a razão daqueles estranhos acontecimentos. Senti necessidade de mais algumas explicações e o final acabou por não ter o impacto que eu desejava, talvez porque estivesse a imaginar algo diferente. Apesar de tudo, é uma agradável leitura!

"Chegou ao seu Destino" de Rui Ramos (3*)
Estranho. Esta é a palavra que define a minha primeira sensação com este conto. Um homem perdido no meio de uma estrada, com o telemóvel e o automóvel avariados. Por momentos, tive medo que o autor entrasse nalgum sítio comum, mas acabei por ser surpreendida. Após ultrapassar a antipatia inicial que senti pelo personagem, acabei por ficar muito curiosa e agradada com a criatividade do autor. Acompanhamos o personagem numa viagem repleta de perigos e de criaturas fantásticas, até ao seu derradeiro destino. Será que conseguirá lá chegar? Vale a pena descobrir!

"Já Não se Pode Ter um Bixo" de Carlos Alberto Espergueiro (3*)
Este é o conto mais pequeno da antologia. E é pela voz do Sr. Salustiano Casimiro que ficamos a conhecer uns estranhos bixos que ele encontra num estranho buraco no chão. Quem serão eles? E de onde virão? Um conto extremamente bem-humorado que nos apresenta um personagem sem papas na língua. Só fiquei com pena por o conto ser tão curto; queria ler mais! Recomendo!

"A Solidão é um Deus Negro" de Ricardo Correia (5*)
Cecília deixou de sorrir no dia em que perdeu o seu amado, Manuel, doze anos antes. Mas Cecília deixou também de sentir o que quer que fosse dentro do seu peito e o seu luto deu origem a um buraco negro, um vazio que se estendia a toda a aldeia.
Achei este conto muito interessante e precisei de o ler mais de uma vez para ser capaz de fazer a minha interpretação. Devo dizer que a escrita é belíssima e merece que cada palavra seja saboreada. Além disso, a narrativa está tão impregnada com a dor de Cecília que dá a sensação de que esse vazio se estende até ao leitor, causando-lhe um certo mal-estar durante a leitura. O autor recorre a uma peste, uma epidemia que nasceu com o sofrimento de Cecília e se estende pela população, dizimando toda a vida em seu redor, para nos mostrar o poder da solidão. É um conto que convida à reflexão, mostrando como a solidão e a depressão podem afetar todos à nossa volta e alertando para a importância de fazer o luto corretamente. Um conto para ler e reler!

"Anátema" de Pedro Nuno Galvão (3*)
Para mim, este foi um dos contos mais difíceis da antologia. Trata-se de um monólogo bastante ambicioso, resultante de uma conversa entre dois indivíduos que estão longe da cidade, mas o conto dá-nos apenas as falas de um deles, aquele que está há mais tempo a viver na natureza. Confesso que me provocou alguma estranheza e nem depois da segunda leitura o achei mais fácil de compreender. Não deixa de valer a pena a sua leitura, mas talvez seja um conto que não conquiste facilmente todo o tipo de leitores.

Por fim, nesta Antologia, podem ainda encontrar o meu conto - A Maldição da Casa da Colina - cuja opinião deixarei a cargo dos leitores. Espero sinceramente que seja uma leitura prazerosa!

Faço um balanço muito positivo da Antologia e volto a mencionar a importância de lermos autores portugueses, de apoiarmos as pequenas editoras e de darmos uma oportunidade ao talento que existe no nosso país.

Classificação: 4/5 estrelas

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