«O genial não é o que Schweblin diz, mas, antes, o modo como o diz. A sua estrutura tão enigmática e disciplinada parece colocar este livro num novo género literário.»
The New Yorker
Kentukis foi o livro que comprei no Natal por sugestão dos meus seguidores do Instagram. Em vez de fazer um sorteio com as várias sugestões que recebi, decidi analisar todos os livros e escolher aquele que me pareceu mais estranho, aquele livro que provavelmente eu nunca compraria. E foi assim que chegou cá a casa este trabalho de Samanta Schweblin, uma autora que eu desconhecia por completo.
Kentukis apresenta uma temática bem original e que me cativou desde o momento em que procurei algumas opiniões, de forma a conhecer um pouco melhor o livro.
Os kentukis são a mais recente invenção tecnológica. Tratam-se de peluches com a forma dos mais diversos animais, e incluem uma câmara incorporada nos olhos. Cada kentuki é manobrado por um utilizador, em qualquer parte do mundo.
Assim, existem duas opções: podes ter um kentuki, o que significa que tens um bonequinho a andar pela tua casa e a mostrar a alguém tudo o que lhe permites ver; ou podes "ser" um kentuki, e neste caso compras um tablet com uma conexão e passas a controlar o kentuki de outra pessoa e a ver tudo através da sua câmara.
É um livro que se lê muito bem, mas que apetece ler devagar, saborear cada uma das diferentes histórias. A escrita de Samanta é bonita, muito certinha e cativante; consegue na perfeição transportar-nos para dentro destas páginas.
O livro apresenta várias histórias. Algumas decorrem num único capítulo e vão surgindo em paralelo com histórias mais longas. Assim, conhecemos diversas personagens, todas com uma experiência diferente com os seus kentukis.
As histórias não se interligam, nenhuma personagem se cruza com outra. Eu caracterizaria este livro como um livro de contos, alguns curtos, outros longos, mas todos abordando a mesma temática.
Kentukis faz-nos pensar na forma como utilizamos a tecnologia. A verdade é que ela está muito presente nas nossas vidas e o que decidimos partilhar e tornar público depende inteiramente de nós. Contudo, estaremos realmente conscientes dos perigos a que nos estamos a expor quando partilhamos a nossa vida privada?
E será que preferimos observar ou ser observados? Quantas vezes não nos dá um certo prazer espreitar as vidas dos outros? Mas teremos noção de que esse comportamento poderá deixar-nos deprimidos, ao acreditarmos que a vida do outro é melhor do que a nossa? Se pensarmos bem, temos tendência a partilhar sobretudo as coisas boas que nos acontecem e esconder as reais dificuldades que vivenciamos.
Ao terem um kentuki, as personagens estão a abrir a sua casa, a sua intimidade, a um estranho. Em algumas histórias, as personagens tentavam estabelecer contacto com o seu kentuki, por exemplo, trocando e-mails. No entanto, se lhe fizessem perguntas, como poderiam ter a certeza de que as respostas eram sinceras? Como poderiam saber se as intenções da pessoa eram boas ou más?
No final, quase todas as histórias terminam com comportamentos mais desajustados por parte das personagens. Algumas acabaram por sentir terror com a sua experiência, outras sentiam que estavam a dar em doidas, outras estavam já completamente obcecadas...
Fiquei muito contente por ter conhecido esta autora e pela oportunidade de conhecer um livro tão original. Não digo que tenha sido a melhor leitura da minha vida, mas será certamente uma história que irei recordar.
Recomendo vivamente a sua leitura! Consegui despertar a tua curiosidade?
Classificação: 4/5 estrelas
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