sábado, 4 de janeiro de 2020

"A Rapariga que Veio do Frio" de Gilberto Pinto [Opinião]


Esta foi a minha última leitura de 2019 e fiquei muito contente por terminar o ano a conhecer mais um autor português.

A capa atraiu-me devido ao violino e à paisagem de neve, condizente com o título. Este também sugere uma história misteriosa, tendo suscitado a minha curiosidade.

Antes de mais, devo referir que a sinopse do livro é bastante enganadora. Se puderam, leiam o livro sem olhar para a sinopse, uma vez que ela poderá criar expectativas pouco realistas daquilo que irão encontrar.

A biografia do autor refere que este "é o seu primeiro romance policial". Na verdade, eu não incluo este livro dentro da categoria de romance policial, uma vez que a história se desenrola quase toda em torno de Leonardo, um jornalista, não havendo qualquer tipo de investigação criminal. Creio que seja mais adequado afirmar que este livro se trata de um thriller.

A ação deste livro decorre na cidade do Porto e um pouco mais no interior, junto às margens do rio Douro. Alterna igualmente entre presente e passado.
Os capítulos do passado são, na minha opinião, os mais interessantes. Dão-nos a conhecer uma família e os seus segredos, acabando, no fim, por se relacionar com os crimes de tráfico de mulheres que estão a ocorrer no presente. Estes crimes acabam por ter um foco mesmo muito pequeno e é neste aspeto que a sinopse poderá enganar.

[Fotografia da minha autoria]

Fiquei surpreendida com a escrita do autor, apelativa e cuidada. A primeira metade do livro quase não tem ação, é muito morna, e só continuei a insistir na leitura porque me sentia mesmo curiosa em relação à narrativa do passado. Felizmente, a parte final do livro ganha um pouco mais de dinamismo e até algum suspense, o que me permitiu ler quase cem páginas apenas numa tarde.

Confesso que não simpatizei muito com o protagonista, Leonardo. Além de ser obrigado a enfrentar os fantasmas do seu passado, também não tem o presente muito controlado. Achei incongruente o facto de estar numa relação com Júlia, embora com dificuldades em comprometer-se, ter ciúmes por a namorada se encontrar com outros homens e, ao mesmo tempo, sentir-se atraído por Aleksandra, uma hacker misteriosa.

Um aspeto que considero menos positivo neste livro é a existência de uma carta cujo conteúdo nunca é revelado. Leonardo encontra essa carta logo no primeiro capítulo, passa o livro todo com ela no bolso, pensando nela com frequência, o que me levou a acreditar que a carta desempenharia um papel importante na história. Mesmo que ele nunca tivesse lido o seu conteúdo, acho que o leitor merecia conhecê-lo. Senti-me enganada, uma vez que vi a minha curiosidade ser espicaçada a cada capítulo que lia, para no fim não receber respostas.

No geral, creio que o livro merece ser lido. A escrita é boa e a história cativante. Aproveitem o novo ano e explorem um bocadinho mais os autores portugueses!

Classificação: 3/5 estrelas

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