As Intermitências da Morte foi o segundo livro de Saramago que li este ano e estou muito satisfeita com a minha decisão de começar a conhecer a vasta obra deste autor.
Eu diria que este livro é uma espécie de distopia, passado num determinado país onde, de repente, as pessoas deixam de morrer. Achei a premissa extremamente interessante e, logo no primeiro capítulo, somos atirados para o meio deste estranho acontecimento. Bastaram alguns parágrafos para o autor me deixar a refletir.
A morte é um acontecimento natural; embora isto seja um gigante cliché, a morte é a única certeza que temos na vida. Por muito que doa e nos custe perder um ente querido, a verdade é que a morte é natural e importante. Estamos acostumados a ela, por isso não deixa de ser estranho imaginar o que aconteceria se de repente ninguém morresse.
O autor retrata esta situação de forma excelente: os hospitais ficariam completamente cheios de idosos e pessoas doentes que, por um lado, não recuperariam das suas doenças mas, por outro, também não morreriam, ficando eternamente a ocupar camas. Os lares de idosos passariam a ser poucos para a procura existente. As agências funerárias ficariam mergulhadas numa terrível crise. E nem a Igreja Católica escaparia, uma vez que sem morte não há ressurreição.
A primeira metade do livro centra-se nestes aspectos, envolvendo também os políticos e a forma como eles têm de lidar imediatamente com esta situação de calamidade.
Sensivelmente a meio do livro há uma parte um pouco monótona e que me custou a ler. Pensei que o problema fosse meu (uma vez que tenho por hábito ler à noite e senti dificuldades em concentrar-me na escrita de Saramago) porém, após ler algumas opiniões, descobri que outros leitores relataram a mesma dificuldade. Há, de facto, uns capítulos mais chatos, mas vale totalmente a pena fazer um esforço e prosseguir até à segunda metade do livro.
Aqui surge uma personagem nova: a morte (que insiste em que o seu nome seja escrito com letra minúscula). Foi delicioso de se ler! Há muito humor, muita ironia, a forma magnífica como o autor fala da morte, nos mostra como ela é e como se comporta, até que, pouco a pouco, a vai tornando mais humana. O final é incrível e eu fiquei completamente embasbacada a olhar para o livro, sem saber como o interpretar. Comecei a formular teorias na minha cabeça mas ainda sinto necessidade de discutir aquele final com outros leitores.
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Sem dúvida que tenciono continuar a explorar o mundo que Saramago nos deixou e só me arrependo de não ter começado mais cedo.
Classificação: 4/5 estrelas
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