sábado, 24 de junho de 2017

Projeto Conjunto | Empréstimo Surpresa [Desafio]


Embora com algum atraso, aqui está o desafio que a Silvana me criou para o livro A Sombra de um Passado.

DESAFIO:

Quando o passado insiste em vir ter contigo

Clara e Hugo seguiram as suas vidas de forma separada. Cada um, pegando nos destroços das sombras do passado que se imiscuíram com o presente e construindo a sua própria felicidade.
Porém há coisas que nunca morrem. Aquelas que vivem e se enraízam dentro de nós podem suavizar, mas a sua marca permanece. E o Hugo será sempre uma dessas marcas.
Um dia, passados vinte anos, sem que nada o faça prever, Hugo e Clara cruzam-se.
Como terá sido esse encontro?

A MINHA RESPOSTA:

Era um dia quente de verão. Clara tinha ido correr na praia, ao final do dia. Era uma atividade que lhe agradava, ajudava-a a manter-se em forma e permitia-lhe espairecer depois de um dia inteiro de trabalho. Adorava sentir a areia macia e a água do mar a envolver-lhe os pés.
A dada altura, viu um grupo de pessoas. Estavam num pequeno círculo e isso despertou-lhe a atenção. Podia ser alguém ferido ou a sentir-se mal. Aproximou-se para tentar perceber o que se passava, pediu licença a algumas pessoas e rapidamente se viu frente a um jovem estendido no chão. Era um adolescente com cerca de 13 anos. Estava a ser socorrido pelo nadador salvador.
À sua direita, estavam outros jovens sensivelmente da sua idade e Clara perguntou a um deles o que se tinha sucedido.
– Ele sentiu-se mal quando estávamos a jogar à bola na água – explicou um deles. – Caiu para o lado assim de repente. Pensávamos que estivesse na brincadeira connosco, mas como nunca mais vinha à superfície, nadamos para o local onde ele estava. Agarramo-lo com sorte e pedimos ajuda.
Clara voltou a olhar para o rapaz na areia, preocupada. Ele já estava a vir a si e alguns amigos estavam ajoelhados junto dele, já a rir e a dizer-lhe para nunca mais fazer aquilo. Um deles mencionou que tinham chamado o seu pai, ao que ele exclamou:
– Oh, não, não era preciso chamarem o meu pai. – Parecia envergonhado. – Já me sinto melhor, foi só fraqueza.
Algumas pessoas começaram a afastar-se, agora que a situação tinha melhorado. O nadador salvador disse que iria esperar pelo pai do jovem e recomendar que fossem ao hospital verificar se estava tudo bem.
Clara viu um homem atravessar o areal a correr e, por momentos, sentiu-se como se a sua vida estivesse a recuar no tempo. Conhecia aquele corpo, aquela forma de correr. Hugo? Não podia ser. Fechou os olhos e voltou a abri-los. O homem tinha-se aproximado e atirava-se para o chão, tentando perceber o que se tinha passado. O rapaz explicou a situação e o nadador apresentou as suas recomendações. Levantaram-se e, nesse momento, os olhos dele fixaram-se nos dela. Meu Deus, era Hugo.
Ele ficou igualmente surpreendido por vê-la e um enorme sorriso apoderou-se dos seus lábios.
– Clara? És mesmo tu?
O rapaz ficou a olhar para ela. Não conhecia a mulher com quem o pai estava a falar.
– Hugo, que surpresa encontrar-te aqui. Não sabia que tinhas um filho.
Hugo fez-lhe sinal para começarem a caminhar. Queria dirigir-se ao carro para levar o filho ao hospital.
– Chama-se André, o meu rapaz em apuros. – Hugo levava a mão pousada no ombro do filho; era uma visão enternecedora. Virou-se para ele, dizendo: – Esta é a Clara, uma pessoa que conheci há muitos anos. – Voltou-se novamente para ela. – Então e tu, como estás? Continuas a trabalhar na farmácia?
– Sim, embora com um horário mais reduzido. Agora também dou formação vários dias por semana. – Clara observava Hugo. Estava mais velho, mas as feições que tão bem conhecera mantinham-se. – E tu, continuas a trabalhar na oficina?
– Sim, mas desta vez na minha própria oficina. Abri um negócio meu e está a correr muito bem.
– Fico muito contente por teres refeito a tua vida. Casaste?
– Há 15 anos. Tiramos uns dias de férias para virmos comemorar a data em família, mas aqui o jovem consegue sempre meter-se em sarilhos.
– Senti-me mal, pai. Não me meti em sarilhos voluntariamente – reclamou André.
– Eu sei – Hugo brincou com o filho, despenteando-lhe o cabelo. Voltou-se novamente para Clara. – E como está a tua filha?
– A Carolina é médica, em Lisboa. E tive mais duas filhas, a Glória e a Vitória, gémeas. Estão a estudar Belas-Artes.
Hugo assobiou, admirado com a prole de Clara.
– E o teu marido?
Clara baixou o olhar e Hugo notou-lhe a expressão triste. A sua voz também fraquejara quando falou:
– Perdi o Santiago há quatro anos. Cancro.
Hugo sentiu a devastação de Clara. Desejou abraçá-la e poder confortá-la.
– Lamento imenso que tenhas passado por essa situação – disse-lhe. Clara anuiu em sinal de agradecimento. Era sempre difícil recordar a perda do amor da sua vida.
À medida que se aproximavam do carro de Hugo, instalara-se uma calma entre ambos.
Hugo abriu o carro e o filho entrou. Aproximou-se de Clara para se despedir dela.
– Gostei de te ver, Clara – disse, em voz suave. Nunca me vou esquecer que foste tu que me ensinaste que não podemos obrigar alguém a amar-nos; quando é verdadeiro, o amor é a melhor coisa que temos na vida. Por isso, espero que ela ainda te traga alguma da felicidade que perdeste com a partida de Santiago.
– Obrigada, Hugo. Foram palavras amáveis. Sabes que também desejo a maior felicidade para ti – desejou Clara, sinceramente.
Tocaram levemente na mão um do outro e depois afastaram-se. Hugo entrou no carro e Clara caminhou na direção contrária. Não sabia se o voltaria a ver, mas sabia que Hugo era apenas uma marca do seu passado, uma memória que se suavizara com o tempo.

Gostei muito de responder a este desafio, Silvana, pois permitiu-me ser mais criativa. Venha o próximo livro!

6 comentários:

  1. Apesar de ter ficado triste, pois mataste-me o Santiago, gostei de ler a tua visão de um encontro passados 20 anos. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada. :) Não queria escrever só coisas felizes e matar uma das personagens foi a primeira ideia que me ocorreu. A ver se num futuro desafio não sou assim tão mázinha.
      Beijinhos

      Eliminar
    2. Não vais ser não, porque a maldade já está instalada e já tem mortes que cheguem... Será um desafio diferente :)

      Eliminar
    3. Não estava a referir-me já ao desafio do próximo livro, mas a um outro qualquer no futuro. :P
      E lembrei-me agora que também mataste a Fallon no desafio do "9 de novembro"!

      Eliminar
    4. Eu sei, e mesmo assim fiquei bem triste. :/

      Eliminar

Obrigada pelo teu comentário e pelo tempo que dedicaste a ler o que escrevi!