quarta-feira, 26 de maio de 2021

Palavras Sentidas


"A sombra tem um grave defeito, perde-se-lhe o sítio, não se dá por ela assim que lhe falta uma fonte luminosa."
 
As Intermitências da Morte
José Saramago

segunda-feira, 24 de maio de 2021

"O Paciente" de Jasper DeWitt [Opinião]


«O Paciente é uma história em que o terror vai crescendo lentamente até agarrar o leitor, com uma série contínua de arrepios.»
New York Journal of Books
 
É sempre algo arriscado acreditarmos nas chamadas de atenção que alguns livros trazem na capa, indicando que são o livro perfeito para os fãs de um outro livro.
O romance de estreia de Jasper DeWitt é indicado para fãs de A Paciente Silenciosa, de Alex Michaelides, um livro que eu adorei e que me fez querer ler este de imediato.

Mas afinal o que têm estes livros em comum? Um hospital psiquiátrico, um paciente misterioso e um terapeuta jovem e ambicioso, com muita vontade de tratar um paciente difícil.

O Paciente é narrado na primeira pessoa e logo aqui o livro se torna diferenciador porque vamos ler relatos publicados num fórum destinado a profissionais de saúde. Acompanhamos toda a história de Parker, um psiquiatra que chega a um novo hospital e rapidamente fica interessado no caso de um paciente, internado desde os 6 anos, sem diagnóstico conhecido e considerado incurável. Cada pessoa que o tentou tratar foi levada à loucura ou ao suicídio.

Arrepiante, não é?

Custou-me um pouco a adaptar-me a esta narrativa mas, ao fim de um par de capítulos já me sentia completamente envolvida na história. Envolvida e cheia de dúvidas, tal como o nosso doutor.
O que se passou, afinal? Quem é este paciente internado há mais de vinte anos? Porque é que todos se sentem aterrorizados na sua presença?
As respostas chegam, mas não foram nada daquilo que eu imaginei na minha tentativa de adivinhar o final.

[Fotografia da minha autoria]

Alguns leitores (cujas opiniões já li) referiram ter achado este livro aterrador e causador de pesadelos. Eu não senti nada disso. Senti muita curiosidade, alguma estranheza, mas não aquele medo que resulta de estarmos a ler algo arrepiante.
Eu sei por que razão não senti o mesmo que outros leitores, e é por isso que afirmo que este livro poderá proporcionar experiências diferentes a leitores diferentes.

Uma grande parte desta história insere-se no thriller psicológico e só mais perto do final é que aparecem elementos de terror sobrenatural. E foi esse final que não me satisfez totalmente.
Eu aprecio fantasia e sobrenatural, contudo, quando um livro aborda um tema mais "real", mais contemporâneo, acaba por ser uma desilusão chegar à última página e descobrir que a solução é algo dentro do sobrenatural. Creio que me assusto mais com a maldade do ser humano do que propriamente com monstros imaginários ou criaturas sobrenaturais.

O livro é cativante e conjuga muito bem a temática da saúde mental e da psiquiatria com alguns ingredientes de terror sobrenatural. É um livro ótimo se quiseres explorar esta temática, mas não garanto que seja realmente assustador. Experimenta! Poderás ter uma experiência bem diferente da minha.

Deixo o meu agradecimento à Topseller, por continuar a apostar cada vez mais em livros dentro do género terror, algo que tem vindo a ser mais explorado em Portugal!

Classificação: 3/5 estrelas

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Palavras Sentidas


"O verdadeiro valor da arte, de um quadro, por exemplo, não é a técnica, a cor, ou a exatidão do desenho. O que importa mais são as emoções que transmite. Só isso perdurará no tempo."


O Cardeal
Nuno Nepomuceno 

terça-feira, 18 de maio de 2021

"A Menina Silenciosa" de Hjorth & Rosenfeldt [Opinião]


«Um romance trepidante que não foge do pesado custo emocional da culpa e da perda.»
Sunday Times (Reino Unido)

A Menina Silenciosa é o quarto volume da série Sebastian Bergman. Nunca é demais repetir que esta série deve ser lida por ordem, uma vez que dá uma grande ênfase à vida das personagens.

Não entendo como passei vários anos com dois livros desta série na estante, sem nunca lhes ter dedicado um tempinho. A verdade é que agora me sinto completamente viciada nesta trama, que se tem tornado mais empolgante a cada livro.

O volume anterior apresentava um caso policial pouco interessante e que não me encheu as medidas. Felizmente, neste livro houve uma grande melhoria.

A Riksmord é chamada a investigar o caso de uma família que foi brutalmente assassinada em casa, em plena luz do dia. Descobrem que há uma testemunha, uma menina de 9 anos, completamente traumatizada e que deixou de falar, apenas comunicando através de desenhos.
Enquanto tentam romper a sua parede de silêncio, terão de a proteger, dado que o assassino está disposto a tudo para garantir que ela permanece calada.

[Fotografia da minha autoria]

Não obstante a brutalidade destes crimes, o livro não apresenta descrições excessivamente violentas. Tal como já referi no passado, estes livros são pouco procedimentais. Não encontramos uma investigação muito aprofundada nem autópsias macabras.

A investigação está muito bem conduzida, com as dificuldades associadas, com tensões entre as diversas forças policiais e com o aparecimento de novas pistas. A criança que testemunhou o crime foi talvez o que tornou este livro novamente num dos meus preferidos da série.
 
Gostei da relação que Sebastian estabeleceu com a menina, mas gostaria de ter visto um maior desenvolvimento do seu mutismo e de como a terapia a poderia ajudar. Esta criança foi importante, na medida em que ajudou Sebastian a confrontar os acontecimentos do seu passado. Ainda não sei se é desta que ele conseguirá finalmente alguma paz de espírito, mas pelo menos senti uma evolução.

O final deste livro não é tão chocante como o do anterior, mas é igualmente surpreendente, uma vez que nos traz uma revelação chocante e a promessa de um segredo que irá ser revelado. Creio que agora estou ainda mais desejosa de ler o volume seguinte!

Classificação: 4/5 estrelas

quinta-feira, 13 de maio de 2021

"O Dilema" de B. A. Paris [Opinião]


«Um drama familiar que nos provoca uma tensão quase palpável. Só queremos descobrir o que acontecerá a seguir.»
Sunday Mirror
 
Aflitivo.
Angustiante.
 
A pessoa que mais amas está a realizar o seu maior sonho. Queres que ela tenha um dia perfeito. Porém, quando recebes uma notícia terrível, sabes que tens de lhe contar... e que essa notícia vai devastar por completo as vossas vidas. O que serias capaz de fazer para lhe dares mais algumas horas de felicidade?

O sonho de Livia é dar uma festa de arromba nos seus 40 anos, para compensar a festa de casamento que nunca teve. Li algumas opiniões em que os leitores referiam que dar uma festa é o sonho mais fútil de sempre. Sim, até pode ser, mas eu li este livro de mente aberta, sem julgar as personagens pelos seus sonhos e desejos, sejam eles fúteis ou não.
No dia da festa, Adam recebe uma notícia terrível e tem de a contar a Livia. Não pode deixar a festa acontecer. Mas ela está tão feliz! Será ele capaz de lhe dar a notícia que vai destruir toda esta felicidade?

Este livro passa-se ao longo de um dia. A história é contada na voz de Livia (a viver o seu sonho) e de Adam (a viver um inferno pessoal). Hora a hora vamos acompanhando todas as emoções e acontecimentos deste dia, alternando com alguns episódios do passado, de forma a conhecermos toda a dinâmica desta família.

[Fotografia da minha autoria]

O Dilema é um livro tanto para fãs de thrillers emocionais como para fãs de dramas. É uma história com uma carga dramática muito forte que mexe com as emoções. Por isso, é importante que o leitor tenha isto em conta, para mais tarde não dizer que o livro não era bem o que esperava.

B. A. Paris escreve thrillers psicológicos de leitura compulsiva. Geralmente as premissas dos seus livros são simples, mas o suspense está tão bem doseado que é impossível parar de ler. Tenho lido todos os seus livros quase sem respirar e este é mais um capaz de nos deixar os nervos em franja.

Confesso que passei toda esta leitura incrédula com o que estava a acontecer. Sabemos logo nas primeiras páginas o que aconteceu, isto não é surpresa, e conseguimos imaginar que o livro não terá um final feliz. O que precisamos urgentemente de saber é quando será feita a revelação.
 
Não é um livro com um final surpreendente, não aparece nenhuma reviravolta que nos vai deixar boquiabertos. Mas todo o livro é um murro no estômago. É angustiante. É aflitivo. É intenso. É de partir o coração.
Este livro deixou-me mesmo triste. Mesmo depois de o ter terminado, continuei a sentir-me como se aquela nuvem negra ainda pairasse acima de mim.

A narrativa na primeira pessoa permite-nos vestir a pele daquelas personagens, pensar "e se fosse eu, o que faria?". É um ótimo livro para treinar a empatia. Gostei mais de ler os capítulos na perspetiva de Adam. Foi terrível acompanhar a sua aflição enquanto pai e vê-lo mergulhado naquele inferno.

Um drama familiar muito bem construído e contado à velocidade de um thriller. É um livro sobre escolhas, sobre segredos, sobre o que fazer quando estamos perante uma escolha impossível.

Em conclusão, creio que posso afirmar que nunca li nada assim. Recomendo sem qualquer reserva. Prepara-te para uma montanha-russa de emoções!

Classificação: 4/5 estrelas

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Palavras Sentidas


"As folhas de outono não caem. Voam. Deambulam pelo ar, sem pressas, como que a aproveitar a sua única oportunidade de voar. Viajam pelas correntes de ar, refletindo a luz do sol, rodopiando e flutuando ao vento."
 
Lá, Onde o Vento Chora
Delia Owens

quinta-feira, 6 de maio de 2021

"O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë [Opinião]


Confesso que nunca tinha sentido muita curiosidade em relação a este clássico, nunca procurei ler a sinopse para saber de que se tratava. Até que vi um leitor no Instagram referir que se tratava de uma história sobre vingança. Sendo este um tema que eu adoro encontrar na literatura, decidi que chegara a hora de apostar neste clássico, o único livro escrito por Emily Brontë.
 
Apesar de ser um clássico, achei-o apelativo, cativante e não tive qualquer dificuldade com a escrita da autora. Esta edição revista da Dom Quixote está muito moderna e cuidada. Devo também mencionar a capa, que está absolutamente encantadora e é bem possível que seja uma das mais bonitas da minha estante.

Esta é a história de duas famílias, os Earnshaw e os Linton, apanhadas no meio de uma paixão avassaladora que arrasará tudo em seu redor.
 
A história é contada por Nelly Dean, a antiga governanta do Monte dos Vendavais, ao novo inquilino da Granja, Mr. Lockwood, que está curioso por conhecer a história do seu antecessor. Esta forma de narrar resultou muito bem, uma vez que Nelly é uma das personagens mais sensatas do livro e vai preenchendo a sua narrativa com algum humor.

[Fotografia da minha autoria]

O que é que eu senti a ler este livro? Para começar, passei grande parte do tempo irritada com as personagens e incrédula com os seus comportamentos. Catherine é extremamente mimada e caprichosa. Quase todas as outras personagens são mal educadas e rudes, e nem os empregados escapam a esta falta de educação. Quanto a Heathcliff, nem tenho palavras. É um ser completamente diabólico, rancoroso, vingativo, violento e louco.

O Monte dos Vendavais é a história de um amor proibido, porém, se me permitem a sinceridade, eu não encontrei amor nenhum nesta história. O que Catherine e Heathcliff sentem um pelo outro é uma paixão cruel, destrutiva, e dá-me a sensação de que tudo isto aconteceu porque eles nunca foram capazes de conversar um com o outro, de pelo menos tentar ultrapassar as diferenças que os separavam, de lutar um pelo outro, talvez até fugir juntos. Isto foi um amor nunca vivido que se transformou num ódio visceral e numa terrível vingança que afetou as gerações futuras.
 
Não posso afirmar que o livro me tenha marcado para toda a vida, mas reconheço que é um clássico imperdível e que merece ser lido. Esta história foi escrita há mais de 170 anos e não é por acaso que continua a ser lida e apreciada pelos leitores.
Sei que vou recordar-me destas personagens durante muito tempo e da aura negra que as envolve.
Uma história sombria e cruel cuja leitura recomendo a quem desejar explorar este clássico da literatura.

Classificação: 4/5 estrelas

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Palavras Sentidas


"Havia na música algo que tornava as coisas mais claras; era como se aquilo que tinha acontecido se revelasse mais simples, mais puro, o que, por sua vez, tornava a raiva dele mais manejável. Através da música via a vida como uma imagem, e já não lhe doía tanto."


O Homem Ausente
Hjorth & Rosenfeldt