terça-feira, 1 de dezembro de 2020

"As Intermitências da Morte" de José Saramago [Opinião]


As Intermitências da Morte foi o segundo livro de Saramago que li este ano e estou muito satisfeita com a minha decisão de começar a conhecer a vasta obra deste autor.

Eu diria que este livro é uma espécie de distopia, passado num determinado país onde, de repente, as pessoas deixam de morrer. Achei a premissa extremamente interessante e, logo no primeiro capítulo, somos atirados para o meio deste estranho acontecimento. Bastaram alguns parágrafos para o autor me deixar a refletir.
A morte é um acontecimento natural; embora isto seja um gigante cliché, a morte é a única certeza que temos na vida. Por muito que doa e nos custe perder um ente querido, a verdade é que a morte é natural e importante. Estamos acostumados a ela, por isso não deixa de ser estranho imaginar o que aconteceria se de repente ninguém morresse.

O autor retrata esta situação de forma excelente: os hospitais ficariam completamente cheios de idosos e pessoas doentes que, por um lado, não recuperariam das suas doenças mas, por outro, também não morreriam, ficando eternamente a ocupar camas. Os lares de idosos passariam a ser poucos para a procura existente. As agências funerárias ficariam mergulhadas numa terrível crise. E nem a Igreja Católica escaparia, uma vez que sem morte não há ressurreição.
 
[Fotografia da minha autoria]
 
A primeira metade do livro centra-se nestes aspectos, envolvendo também os políticos e a forma como eles têm de lidar imediatamente com esta situação de calamidade.
 
Sensivelmente a meio do livro há uma parte um pouco monótona e que me custou a ler. Pensei que o problema fosse meu (uma vez que tenho por hábito ler à noite e senti dificuldades em concentrar-me na escrita de Saramago) porém, após ler algumas opiniões, descobri que outros leitores relataram a mesma dificuldade. Há, de facto, uns capítulos mais chatos, mas vale totalmente a pena fazer um esforço e prosseguir até à segunda metade do livro.

Aqui surge uma personagem nova: a morte (que insiste em que o seu nome seja escrito com letra minúscula). Foi delicioso de se ler! Há muito humor, muita ironia, a forma magnífica como o autor fala da morte, nos mostra como ela é e como se comporta, até que, pouco a pouco, a vai tornando mais humana. O final é incrível e eu fiquei completamente embasbacada a olhar para o livro, sem saber como o interpretar. Comecei a formular teorias na minha cabeça mas ainda sinto necessidade de discutir aquele final com outros leitores.

Se leste este livro, partilha comigo os teus pensamentos em relação ao final!

Sem dúvida que tenciono continuar a explorar o mundo que Saramago nos deixou e só me arrependo de não ter começado mais cedo.

Classificação: 4/5 estrelas

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pelo teu comentário e pelo tempo que dedicaste a ler o que escrevi!