Não sei porque demorei tanto a ler este livro. Interessei-me por ele assim que foi publicado em Portugal, consegui adquiri-lo mais tarde através de uma troca, mas depois acabei por guardá-lo na estante. Só quando vi que o filme estava prestes a estrear na Netflix é que me decidi, por fim, e lê-lo.
E foi uma leitura incrível, que devorei em apenas três tardes e que me devolveu a vontade de ler durante horas.
Às Cegas apresenta-nos um mundo pós-apocalíptico onde uma espécie de epidemia fez com que as pessoas enlouquecessem e se matassem umas às outras. Havia teorias que diziam que a loucura começava quando as pessoas viam algo. Desta forma, os sobreviventes viviam em casas com as janelas tapadas, as portas trancadas e só iam à rua de olhos vendados.
A narrativa vai alternando entre o presente - altura em que Malorie sai da sua casa segura com os dois filhos, em busca de um refúgio melhor - e o passado - depois da epidemia se ter alastrado e onde vemos como é a vida dos que tentam sobreviver.
Embora tenha gostado de ambas as linhas da narrativa, apreciei um pouco mais a do passado. O que posso salientar é que algo é comum a todo o livro: a mestria de brincar com o terror psicológico, a forma como o autor provoca sensações quase palpáveis, que deixam o leitor verdadeiramente inquieto. Por momentos, é como se nós também estivéssemos lá, juntamente com as personagens, de olhos igualmente vendados e impossibilitados de olhar para o que nos rodeava.
Não é que o livro tenha propriamente cenas chocantes ou violentas, quase tudo isso é sugerido ao leitor, o que pode tornar-se ainda mais assustador. E talvez tenha sido por isso que achei a leitura tão viciante!
[Fotografia da minha autoria]
No nosso dia a dia, se calhar nem pensamos tanto em como a visão é importante. Confesso que achei quase surreal como as personagens faziam quase tudo de olhos vendados. É verdade que muitas pessoas invisuais são capazes de ter uma vida praticamente normal, contudo, neste livro, há ainda a componente medo. As personagens não podem abrir os olhos porque, se os abrirem, será tarde demais...
A audição adquire então um papel muito importante dado que, sem visão, é a audição o sentido que nos guia. Malorie treinou os filhos para ouvir e são eles que a ajudam quando se mete num barco com eles para atravessar um rio.
Quero salientar que, embora tenha achado o livro excelente, fiquei com pena de não nos ter sido explicado como tudo começou e o que provocava exatamente a loucura nas pessoas. Talvez tenha sido deixado assim para que cada leitor tentasse imaginar...
O final também acabou por ser muito calmo, o que desiludiu um pouco depois de uma leitura tão intensa. Esperava mais, embora isso não tenha comprometido o meu sentimento global em relação ao livro.
Foi, sem dúvida, um dos melhores livros que li este ano e não posso deixar de o recomendar, principalmente aos fãs de terror. Este é um género que comecei recentemente a explorar e já me sinto fã e desejosa de descobrir novas obras e autores.
Quanto a Josh Malerman, espero que continue a ser publicado em Portugal. Esta é a sua obra de estreia, o que revela que estamos perante um escritor verdadeiramente promissor.
Classificação: 5/5 estrelas
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