Tema: Oh não, um vírus outra vez!
O vírus
— João, vê se vais para casa descansar — disse-lhe a colega de laboratório, mesmo antes de se ir embora, ao final do dia.
João acenou-lhe com a mão, enquanto abanava a cabeça, prometendo obedecer ao seu conselho. Contudo, não tinha qualquer intenção de abandonar o que estava a fazer. Tal como no dia anterior. E no dia antes desse. E em nenhum dos dias que se seguiram ao desabar do seu mundo.
Recordava-se perfeitamente do dia em que ouvira pela primeira vez falar do vírus porque fora também o dia em que descobrira que iria ser pai.
Há uma semana que não saía daquela sala de laboratório. Tornara-se o seu refúgio. O seu santuário.
O seu purgatório.
Se ao menos tivesse sido suficientemente rápido…
Nos primeiros dias ninguém atribuiu muita importância ao aparecimento do vírus. Porém, à medida que os casos se começaram a multiplicar, o pânico instalou-se nas populações. As primeiras mortes revelaram que se estava perante algo realmente grave. E quatro meses depois não havia um único país no mundo que não tivesse dezenas de casos confirmados.
Há uma semana que João não dormia, excetuando aquelas duas horas que se autorizava a parar. Alimentava-se de café e de uma ou outra sandes, mas sabia que não aguentaria muito mais tempo. Sentia que o seu corpo se assemelhava a uma bomba atómica pronta a explodir.
Mas não podia parar. Sabia que estava prestes a alcançar a descoberta que todos ansiavam. Uma descoberta que, contudo, lhe era inútil, uma vez que nada lhe poderia devolver o que perdera.
O mundo não estava preparado para ouvir aquela declaração de pandemia. Mas ao quinto mês o vírus infetara já dois milhões de pessoas. E ao sétimo mês os investigadores lutavam contra três estirpes diferentes.
João afastou-se da bancada onde trabalhava e dirigiu-se à casa de banho. Tirou as luvas e a máscara e atirou-as para dentro do caixote do lixo. Lavou as mãos e a cara. Sentia a testa e as bochechas demasiado quentes. Havia momentos em que se sentia à beira de desfalecer. O cansaço era muito e o corpo não parava de lhe tremer.
Recompôs-se e fitou o seu rosto no espelho. O rosto do desespero. Um destroço humano. Um homem que, apenas alguns dias antes, se agarrara ao corpo moribundo da mulher. Chorou. Berrou. Gritou por ela e pelo filho que nunca viria a conhecer.
Tinha sido vencido pelo vírus.
A única coisa que lhe restava, mesmo sabendo que chegara tarde demais, era ter a certeza de que seria capaz de o aniquilar.
Arrastou-se de novo para a bancada, sendo assolado por um ataque de tosse.
O derradeiro teste chegara. Não havia mais tempo. E tinha a cobaia perfeita.
Agarrou a seringa onde preparara a vacina e injetou-se no braço.
João acenou-lhe com a mão, enquanto abanava a cabeça, prometendo obedecer ao seu conselho. Contudo, não tinha qualquer intenção de abandonar o que estava a fazer. Tal como no dia anterior. E no dia antes desse. E em nenhum dos dias que se seguiram ao desabar do seu mundo.
Recordava-se perfeitamente do dia em que ouvira pela primeira vez falar do vírus porque fora também o dia em que descobrira que iria ser pai.
Há uma semana que não saía daquela sala de laboratório. Tornara-se o seu refúgio. O seu santuário.
O seu purgatório.
Se ao menos tivesse sido suficientemente rápido…
Nos primeiros dias ninguém atribuiu muita importância ao aparecimento do vírus. Porém, à medida que os casos se começaram a multiplicar, o pânico instalou-se nas populações. As primeiras mortes revelaram que se estava perante algo realmente grave. E quatro meses depois não havia um único país no mundo que não tivesse dezenas de casos confirmados.
Há uma semana que João não dormia, excetuando aquelas duas horas que se autorizava a parar. Alimentava-se de café e de uma ou outra sandes, mas sabia que não aguentaria muito mais tempo. Sentia que o seu corpo se assemelhava a uma bomba atómica pronta a explodir.
Mas não podia parar. Sabia que estava prestes a alcançar a descoberta que todos ansiavam. Uma descoberta que, contudo, lhe era inútil, uma vez que nada lhe poderia devolver o que perdera.
O mundo não estava preparado para ouvir aquela declaração de pandemia. Mas ao quinto mês o vírus infetara já dois milhões de pessoas. E ao sétimo mês os investigadores lutavam contra três estirpes diferentes.
João afastou-se da bancada onde trabalhava e dirigiu-se à casa de banho. Tirou as luvas e a máscara e atirou-as para dentro do caixote do lixo. Lavou as mãos e a cara. Sentia a testa e as bochechas demasiado quentes. Havia momentos em que se sentia à beira de desfalecer. O cansaço era muito e o corpo não parava de lhe tremer.
Recompôs-se e fitou o seu rosto no espelho. O rosto do desespero. Um destroço humano. Um homem que, apenas alguns dias antes, se agarrara ao corpo moribundo da mulher. Chorou. Berrou. Gritou por ela e pelo filho que nunca viria a conhecer.
Tinha sido vencido pelo vírus.
A única coisa que lhe restava, mesmo sabendo que chegara tarde demais, era ter a certeza de que seria capaz de o aniquilar.
Arrastou-se de novo para a bancada, sendo assolado por um ataque de tosse.
O derradeiro teste chegara. Não havia mais tempo. E tinha a cobaia perfeita.
Agarrou a seringa onde preparara a vacina e injetou-se no braço.
Texto incrível.
ResponderEliminarMuito obrigada! ;)
EliminarConseguiste trabalhar bem o tema :).
ResponderEliminarGostei muito do texto.
Lá consegui escrever qualquer coisa! :P
EliminarObrigada!
Beijinhos
tão bem estruturado e bem escrito ;) triste mas excepcional. parabéns linda. beijinhos e feliz semana.
ResponderEliminarMuito obrigada querida Ana!
EliminarTem uma ótima semana!
Beijinhos
Maravilhoso!
ResponderEliminarObrigada! :D
EliminarBolas... homem de coragem.
ResponderEliminarCoragem ou talvez desespero.
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