sábado, 24 de julho de 2021

"A Mão que Mata" de Lourenço Seruya [Opinião]


Adoro policiais e thrillers. São os géneros literários que atualmente mais leio e que estão presentes em abundância na minha estante. Não me considero uma especialista, porém, depois de tantas experiências com diversos autores, consigo reconhecer que não é fácil trazer algo de novo e é necessário muito trabalho e criatividade para abordar de forma original algumas das temáticas mais batidas neste tipo de livros.

A Mão que Mata é o romance de estreia de Lourenço Seruya, ator e professor de teatro, e agora também escritor. Neste livro nota-se a influência da profissão do autor, que estará certamente muito habituado a ler guiões e a estudar diálogos e personagens.
 
Sentia-me curiosa quando iniciei a sua leitura. No entanto, considero que o livro daria um bom argumento para uma telenovela, mas como romance policial acabou por ficar aquém das minhas expectativas e não me cativou tanto como eu esperava.
 
Foram vários os aspetos que não me cativaram. Começando pela premissa, esta não é das mais interessantes que já encontrei num policial. Após o falecimento de um empresário rico, os seus familiares reúnem-se na sua mansão para fazer as partilhas. No dia seguinte, um dos membros da família aparece morto.

Em relação às personagens, achei-as muito estereotipadas, muito saídas de uma novela. Temos o empresário rico, a moça pobre que vai trabalhar como criada, o político rude e insuportável que só pensa na campanha, a tia solteira que todos detestam, a mulher que não se separa do marido porque não se consegue sustentar sem ele, a mulher que trai o marido com o jardineiro, o inspetor jovem cheio de perspicácia, a melhor amiga jornalista...
Além disso, o livro tem demasiadas personagens. As que recebem mais destaque (familiares da vítima e agentes policiais) são cerca de quinze, mas ultrapassam as vinte e cinco se contarmos todas as outras que têm pequenas aparições. Não é anormal isto acontecer, há livros com muitas personagens. Contudo, senti que eram exageradas para um livro tão pequeno, não havendo tempo nem espaço para as conhecer.
Não me senti cativada por nenhuma personagem. Não posso dizer que tenha uma personagem preferida, mas houve uma que detestei: o inspetor Rodrigues. Este inspetor quase reformado passou todo o livro a ser inútil, a criticar e a descredibilizar os palpites do inspetor Bruno, alegando que não se resolvem crimes com palpites ou sensações. Sinceramente, não sei como é que um homem tão obtuso trabalhou tantos anos como inspetor.

[Fotografia da minha autoria]

Devo ainda mencionar que o livro recebeu uma revisão descuidada. Perdi a conta às vírgulas que encontrei fora do sítio e que podiam, simplesmente, ter sido apagadas. Isto é mais forte do que eu, não consigo abstrair-me destes pormenores e acabo por não desfrutar da leitura.

O clímax do livro, o momento em que é descoberto e interrogado o assassino, é tal e qual um episódio do Inspetor Max. Não digo isto como uma crítica negativa. Eu apenas criei expectativas que não se concretizaram, uma vez que leio imenso este género, tenho certas preferências e preciso de policiais com mais substância para me entusiasmar.

O autor consegue conduzir os diálogos com à-vontade e dar-nos a conhecer os pequenos detalhes característicos das personagens, bem como os seus comportamentos. Este é um aspeto positivo e que demonstra que o autor está habituado a trabalhar com diálogos.

Acredito sinceramente que o autor tem potencial para melhorar, tem muito por onde crescer. Não sei se pretende continuar neste registo, mas a verdade é que eu gostaria que ele se distanciasse um pouco mais das novelas e explorasse algo mais fora da caixa.

Por aqui, sou sempre sincera. Acredito que não devemos ficar inebriados quando lemos autores portugueses; devemos manter o nosso espírito crítico e partilhar opiniões fundamentadas que ajudem os autores a melhorar.
 
Em conclusão, mesmo não tendo sido um livro que me conquistou, não deixo de recomendar a sua leitura. É um trabalho de um autor português que até tem cativado leitores e só lendo é que poderão formular uma opinião.

Classificação: 2/5 estrelas

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