sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Desafio de Escrita dos Pássaros #2.5 | A piscina


Tema: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia 

          A piscina

Mariana sentiu a água a molhar-lhe os pés antes mesmo de acordar.

Abriu devagarinho os olhos protegidos pelos óculos de sol. Sentia a pele a escaldar.

Doeu-lhe o corpo quando se ergueu da espreguiçadeira. Há quanto tempo estaria a dormir?

Deixou-se estar sentada e olhou em seu redor. A piscina à sua frente parecia não ter fim. A água era azul e límpida. Um autêntico paraíso.

Observou os pés molhados. Encontrava-se num local muito próximo da borda da piscina e certamente alguém a teria molhado ao atirar-se para a água. As gotículas que lhe cobriam a pele começavam já a desaparecer.

Mas que local era aquele? Não se recordava de como ali fora parar.

Tudo à sua volta era incrível. Até o céu era diferente. Decididamente não era português. Talvez estivesse num resort de luxo nas Maldivas!

Ouviu alguém chamar o seu nome. Virou a cabeça na direção da voz. Dentro de água, duas mulheres acenavam-lhe efusivamente. Reconheceu as suas melhores amigas.

Alguns pormenores começavam a assomar-lhe à mente. Tinha vindo de férias com as amigas para festejar o seu divórcio. Finalmente concretizara o seu maior desejo: livrar-se do marido.

Não havia problema se por vezes não se conseguia recordar das coisas. A medicação costumava deixá-la confusa.

Pegou no protetor solar pousado no chão junto aos chinelos e aplicou uma camada generosa no corpo. O tom do seu bronzeado sugeria que aquele devia ser o terceiro ou quarto dia que passava estendida ao sol.

A confusão voltou a apoderar-se dela. Não se lembrava sequer de ter andado de avião.

Estaria a sonhar?

Não! Os sonhos não transmitem este tipo de sensações. Não sentimos o calor na pele. Não sentimos a água a molhar-nos os pés. Não sentimos o cheiro dos cremes bronzeadores.

Ou será que sentimos?

Não. O mais certo era ter abusado do álcool na noite anterior, o que fora claramente um erro.

Levantou-se, decidida a dar um mergulho. Aquelas eram as suas férias de sonho, mais valia aproveitar ao máximo.

Caminhou devagar, tentando ignorar que as pessoas pudessem estar a olhar para ela. Era uma mulher atraente, embora tivesse de usar fato de banho para esconder as cicatrizes. Tinha sempre receio de que os outros fossem capazes de ver as marcas que o marido deixara nela.

Aproximou-se da borda da piscina, sorriu e atirou-se para a água fresca.


Acordou estremunhada. O sol desaparecera. Tudo à sua volta era cinzento e desinteressante.

Doíam-lhe as costas de ter estado deitada naquela cama de péssima qualidade.

Fitou as grades cinzentas à sua frente.

Agora recordava tudo com clareza. Em breve iria ser presente ao juiz.

Talvez não tivesse sido nada boa ideia esfaquear o marido sete vezes.

8 comentários:

  1. Esta era a segunda mulher do marido da minha personagem 🤣
    Se tivéssemos combinado não sairia tão bem.
    Beijinhos

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    1. Olha que realmente, parece que os nossos textos se complementam!! Isto também demonstra o nosso estado de espírito esta semana, fomos as duas para textos macabros! :P

      Beijinhos

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    2. O desespero leva a estas acções.

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    3. É verdade, às vezes leva mesmo.
      Beijinhos

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  2. ena! valente reviravolta! o texto é extraordinário e tão verdadeiro infelizmente. beijinhos e feliz Domingo, querida ;*

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    1. Obrigada querida Ana, fico muito contente que tenhas gostado! :)
      Uma boa semana para ti!

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  3. Ha alguns que bem merecem os belos sopapos ou um tirinho.
    Belo texto.

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Obrigada pelo teu comentário e pelo tempo que dedicaste a ler o que escrevi!