domingo, 16 de agosto de 2020

"As Filhas de Eva" de Louise O'Neill [Opinião]

 
«É um livro perspicaz e inquietante. [...] O'Neill incita-nos a refletir sobre a nossa própria sociedade, uma sociedade que promove 'corpos descarnados e rostos sem feições' como exemplos máximos de perfeição e beleza»
The Telegraph

As Filhas de Eva tem sido um livro muito falado na comunidade do Instagram. Despertou a minha curiosidade por se tratar de uma distopia que faz também uma crítica à sociedade atual. Além disso, como estava esgotado em todo o lado, tornou-se um objeto de grande procura e tenho de confessar que acho desafiante vasculhar a internet em busca de um exemplar de um livro esgotado. Acabei por encontrar um no OLX, em segunda mão, e comprei-o de imediato!

Comecei a lê-lo alguns dias depois, com as expectativas relativamente elevadas e posso afirmar que não me senti defraudada. Foi uma leitura muito diferente do que tenho lido tanto ultimamente como em comparação com outras distopias que já li. 

Em As Filhas de Eva, as raparigas não nascem de forma natural, são desenhadas nos mais rigorosos critérios da perfeição e passam toda a sua vida numa Escola, onde aprendem as artes de satisfazer os homens. A sua finalidade é tornarem-se Companheiras, sendo-lhes permitido viver com o marido e gerar filhos. Aquelas que não conseguirem tornar-se-ão Concubinas ou Castidades (estas últimas são as professoras da Escola, a quem é removido o útero, por já não ser necessário).

Se esta pequena introdução já se afigura bem intrigante, imaginai o que será entrar nesta leitura. Tudo neste livro é completamente bizarro, absurdo e revoltante de se ler.

Por vezes, as personagens adolescentes com quem me cruzo nos livros são demasiado dramáticas para o meu gosto. Nem todos os livros sobre adolescentes me conseguem cativar pois já não me identifico muito com esta faixa etária. Este livro deixou-me completamente exasperada com os comportamentos fúteis destas jovens, que pensavam unicamente em maquilhagem, em roupa e em contar todas as calorias daquilo que comiam.

Claro que estes comportamentos são os esperados nesta Escola que pretende formar as melhores alunas para se tornarem esposas dos Herdeiros. Mesmo assim, é repugnante ver toda a malícia e competição que existe entre as jovens. São egoístas e mesquinhas umas com as outras. Todas as semanas são avaliadas e recebem uma nota consoante o seu peso e os seus padrões de beleza, o que significa que existe ali um ambiente de competição constante.
Estas jovens não aprendem sequer a ler, porque não se espera que as mulheres sejam inteligentes. Elas devem ser submissas e obedientes aos homens. Se alguma delas quisesse ver o Canal da Natureza, tinha de o fazer às escondidas; contudo, têm à sua disposição canais para assistir a reality-shows.

[Fotografia da minha autoria]

A história é-nos narrada no ponto de vista de freida, uma aluna do último ano. Escrevo o seu nome com inicial minúscula pois é assim que todos os nomes das mulheres são escritos no livro. Este foi um pormenor que achei interessante no mundo que a autora criou: as mulheres são tão insignificantes, tão inúteis, tão rebaixadas, que nem o seu nome próprio é digno de uma inicial maiúscula, ao contrário do que acontece com os nomes dos homens.

Freida deu-me uma certa pena logo desde os primeiros capítulos. Pareceu-me extremamente deprimida pois a sua melhor amiga — isabel — uma das jovens mais populares, de um momento para o outro, afastou-se dela sem qualquer explicação. E, pior ainda, começou a engordar — o comportamento mais impensável e indesejável nesta Escola. Freida vai viver momentos angustiantes enquanto tenta, de todas as formas, juntar-se às mais populares da turma e ser novamente aceite.

Confesso que o início do livro não estava a conseguir cativar-me. A ação decorre mais lentamente, à medida que nos vão sendo explicadas todas as dinâmicas da Escola. Não era que não estivesse a gostar mas, como lia pouco por dia, ficava a sentir que tudo decorria em volta de maquilhagem, roupa e calorias, o que me começou a irritar. Posteriormente, tive uma tarde em que consegui adiantar a leitura e vi-me completamente viciada. Não consegui descansar enquanto não descobri como tudo terminava.

Este é um livro revoltante, com um mundo extremamente bem construído e que aborda temas muito pertinentes, como a pressão dos pares, o papel da mulher, a procura constante por aceitação. Apresenta uma forte crítica à sociedade em que vivemos, que ainda dá muita importância ao aspeto e ao comportamento das mulheres. É certo que tudo o que está no livro pode parecer exagerado, mas muitos destes comportamentos são ainda perpetuados pelas jovens de hoje em dia.
 
Uma leitura que recomendo a todos os que tiverem curiosidade pelo tema e principalmente aos jovens. É um livro importante e que nos faz pensar.

Classificação: 4/5 estrelas

2 comentários:

  1. Adorei a tua análise! Por mais que sintas que ninguém lê o teu blog, continua a escrever nele porque eu achei-o por acaso e adorei a tua opinião!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, T.P.!
      Muito obrigada pelo teu comentário. Acredita que é mesmo importante ouvir palavras como estas, que me motivam a continuar mesmo naqueles momentos de mais desânimo.
      Fico contente que tenhas apreciado a opinião e espero que ela te motive a ler o livro! :)
      Um grande beijinho,
      Daniela

      Eliminar

Obrigada pelo teu comentário e pelo tempo que dedicaste a ler o que escrevi!