terça-feira, 18 de agosto de 2020

Projeto Conjunto | Empréstimo Surpresa [Desafio + Entrevista a Susana Amaro Velho]


Após regressarmos ao nosso projeto de empréstimo surpresa, eu e a Silvana regressamos também aos desafios para os livros que lemos.
Este é o desafio para o livro O Bairro das Cruzes.

DESAFIO:

A publicação de um livro é uma amostra da quantidade de trabalho que a escrita do mesmo implica.
O processo de construção de um livro é um trabalho muito próprio do escritor, deixando algumas curiosidades como exemplo quanto tempo o escritor demorou a escrever o livro, que tipo de pesquisas fez

Daniela, o que é que gostarias de saber mais acerca da escrita deste livro?

A MINHA RESPOSTA:

Pensei em quatro questões que gostaria de colocar à autora. E, para tornar o desafio ainda mais interessante, contactei a Susana e pedi-lhe que respondesse a essas mesmas questões.

Assim, deixo-vos com esta pequena entrevista a Susana Amaro Velho, a quem agradeço, desde já, a simpatia e a disponibilidade.

Daniela: Como te surgiu a ideia para este romance?

Susana:
Não posso dizer que a ideia tenha surgido, propriamente. Até porque quando me sento a escrever é muito raro ter um plano delineado. Deixo que a escrita simplesmente flua. O Bairro das Cruzes foi escrito na minha licença de maternidade. Numa altura da minha vida completamente diferente de tudo o que até aí havia experienciado. Era Inverno. Estava sozinha em casa com um bebé. Esta foi a minha forma de me evadir. De sair de casa, de explorar histórias e caminhos. De conhecer novas personagens. Costumo dizer que escrever este romance alimentou-me o espírito e contribuiu para que não perdesse a sanidade mental, porque me permitiu continuar a ser a Susana e a viver fora de casa, mesmo tendo visto castradas, nessa altura, algumas liberdades.

D: Uma vez que a ação do livro decorre ao longo de importantes acontecimentos históricos do nosso país (como as cheias de 1967, em Lisboa, e o 25 de abril), que tipo de pesquisa fizeste para o escrever?

S: Sou uma apaixonada por história contemporânea. Tenho imensos livros sobre o Estado Novo, o Golpe do 25 de Abril, sobre a PIDE, por exemplo, romanceados e de cariz mais histórico. Lembro-me de ser pequena, de ir com o meu avô a Peniche e de ficar curiosa com o Forte e todo o misticismo que envolve essa parte da história, que, para mim e na altura, era quase impossível de crer verdadeira. Sempre li muito. Sempre perguntei muito. E tenho, de facto, alguns familiares que viveram de perto o Golpe. Que sofreram as consequências atrozes da vida durante o regime fascista. Tudo isso torna a história mais envolvente e quase minha, porque também cresci num Bairro camarário, onde viviam os meus avós. Porque também conheci quem pertencesse à Legião Portuguesa. Porque sempre me perguntei como seria estar lá, em 1974, e esta foi a minha forma de fazer parte disso.
Foi necessário um trabalho de casa dedicado, mas nada difícil de executar. Li. Vi documentários. Perguntei. E anotei. Foi um trabalho muito enriquecedor e que me deixa saudade. Os capítulos dedicados ao 25 de Abril foram os que mais prazer me deram escrever.

D: Qual foi a personagem que mais gostaste de criar e porquê?

S: O avô Zé. Perdi o meu avô quando ele tinha 58 anos, depois de uma luta inglória e demasiado rápida contra o cancro. Era como um segundo pai, sendo a minha mãe filha única e tendo eu somente um irmão. Criar o avô Zé foi, também, ter novamente um bocadinho o meu avô Zé, outra vez, perto de mim. Este avô, ainda que muito diferente do meu, também tinha uma figueira. Também fazia biscates. Também sorria e lia a neta como ninguém. É a minha personagem mais querida, por esse motivo. E será, também, inesquecível por tudo o que representa para mim.

D: Fala-nos um pouco da tua rotina de escrita.

S: Não tenho e nunca tive rotina de escrita. Sempre o fiz por impulso. Sem horas ou objectivos traçados. Talvez porque o faço de forma amadora e ao meu ritmo. Quando a cabeça me pede. Lembro-me de ter sempre um caderno na mala, desde que sou gente. De anotar coisas em diários. De saber que há memórias que só vivem no papel e essa sempre foi uma forma de estar na vida. Mas nunca me obriguei a escrever. Tanto que tenho um blogue que, ultimamente, nem actualizado é. Simplesmente, porque não tem de ser. Não quero escrever por obrigação. Com dias marcados. Quero fazê-lo quando sentir que devo e quando o que partilho acrescenta alguma coisa a quem o lê. Escrever para picar o ponto não tem nada a ver comigo e, uma vez que este não é o meu ganha-pão, espero poder continuar a escrever sempre que isso for uma coisa prazerosa e não uma imposição. Só assim faz sentido.

Mais uma vez, obrigada, Susana!

2 comentários:

  1. Gostei muito da forma como deste corpo ao desafio.
    Por acaso a minha ideia era depois pegar nas tuas questões e convidar a Susana a responder. :) Acabaste por antecipar as minha intenção.
    Beijinhos

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    1. Gostei imenso de responder ao desafio. Por acaso, assim que pensei nas perguntas, achei logo que seria muito interessante pedir à autora para responder! E creio que resultou muito bem. :)

      Beijinhos

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Obrigada pelo teu comentário e pelo tempo que dedicaste a ler o que escrevi!