Este livro despertou a minha curiosidade desde que foi publicado. Estava na minha lista de desejos e, finalmente, este ano surgiu a oportunidade de o adquirir.
Gosto imenso de aprender tudo o que posso sobre a Língua Portuguesa. Tento informar-me, pesquisar, estar a par de todas as mudanças, uma vez que costumo escrever bastante, bem como realizar alguns trabalhos de revisão de texto.
Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro, é um livro repleto de ensinamentos e devo dizer que me abriu os olhos para muitos aspetos da língua e da gramática. Este autor já trabalhou durante alguns anos como revisor para diversas editoras e fiquei surpreendida com o seu conhecimento.
Este livro (cuja capa eu considero ser bastante apelativa) encontra-se estruturado em dez capítulos.
O primeiro aborda a utilização excessiva do pleonasmo na linguagem escrita e falada, muito raramente utilizado com intenção e originalidade. O autor recorre a inúmeros exemplos, sendo um deles o «Há duas horas atrás» ou «Há um ano atrás». Quantas vezes não ouvimos esta expressão na televisão, usada pelas mais diversas figuras públicas? E quantas vezes não usamos esta expressão na oralidade, sem notarmos que estamos a cair num pleonasmo? Para escrevermos corretamente, não devemos usar o «há» com o «atrás».
No segundo capítulo, o autor fala sobre adjetivos, explicando os perigos da sua utilização constante. Dentro desses perigos estão os lugares-comuns, ou clichés, dos quais é importante fugir sempre que possível.
O capítulo que se segue aborda a eufonia, ou seja, a relação entre as palavras e a música, a harmonia resultante da junção de vários sons. O autor alerta para a importância de se estar atento à utilização excessiva de «ques» e de pronomes.
O quarto capítulo aborda um pouco o discurso direto, a forma como as personagens falam, a presença do narrador e a importância de se ter cuidado com a pontuação.
No capítulo seguinte o autor apresenta uma breve reflexão sobre a utilização de palavras caras e a importância de se cultivar a diversidade vocabular.
O capítulo sexto convida-nos a refletir acerca da utilização imparcial das palavras nos textos informativos e das palavras estrangeiras. Cada vez mais, vemo-nos rodeados de estrangeirismos que utilizamos no nosso dia a dia, alguns dos quais já passaram a estar incluídos nos dicionários. Muitos poderão ser da opinião de que as palavras estrangeiras tornam a nossa língua mais rica, mas o autor não concorda com este ponto de vista e explica porquê.
O sétimo capítulo foi um dos que achei mais interessantes. Aqui, o autor aborda as palavras e expressões ubíquas, isto é, as palavras que estão em todo o lado e que utilizamos a toda a hora, por familiaridade. Alguns exemplos são o «aperceber-se», o «a partir de», o «evento» (uma palavra que está na moda usar-se para quase tudo), «o facto de», «líder» (um anglicismo que também se usa para quase tudo), o «eventualmente» (palavra que usamos com o significado errado), entre outras.
O capítulo oitavo é igualmente muito interessante, uma vez que dá voz à pessoa desaparecida, ou seja, aos erros gramaticais que cometemos com a segunda pessoa do plural: vós, vosso, vossa, convosco. Foi um dos capítulos que mais me deixou boquiaberta, uma vez que eu própria também cometo muitos desses erros, por familiaridade e porque é um erro muito comum na oralidade.
O penúltimo capítulo é o mais longo. Aborda o Acordo Ortográfico e apresenta um conjunto de textos que o autor escreveu para diversos jornais e que, posteriormente, compilou neste livro. Achei alguns dos textos um pouco repetitivos, dado que abordam os mesmos assuntos, mas não deixam de ser uma leitura que nos faz refletir acerca do tremendo disparate que é o Acordo Ortográfico e das confusões que ele veio gerar.
Eu utilizo o Acordo Ortográfico no meu dia a dia porque, quando estava a escrever a minha tese de Mestrado, passou a ser obrigatório e tive de me adaptar. Mas não gosto, acho-o confuso e o autor explica imensas vezes que os próprios criadores do Acordo não se entendem, bem como os dicionários.
Por fim, um pequeno capítulo final que me agradou imenso e onde o autor conta algumas histórias da revisão. Elas ajudam-nos a perceber a importância fundamental do trabalho do revisor, a quem nem sempre reconhecemos o devido valor. Por vezes, encontramos erros e/ou gralhas nos livros e temos tendência de imediato a culpar o revisor. O autor explica que é muito raro a culpa ser do revisor: muitas vezes pode ser o paginador que mexe sem aviso, pode haver sobreposição de ficheiros ou outros desastres tecnológicos, o revisor raramente recebe as últimas provas e, nos dias de hoje, há imensa pressa em ter os trabalhos prontos.
Em conclusão, este é um livro muito crítico, com um tom bastante mordaz, mas extremamente útil e informativo. Está bem estruturado, repleto de exemplos e bem fundamentado, ou seja, o autor não se limita a dizer o que está mal e errado, ele explica de forma convincente as razões por que devemos abandonar alguns dos nossos vícios e usar com mais cuidado a nossa língua. É, na minha opinião, um livro fundamental para professores, escritores, revisores e quem trabalha com a palavra escrita.
Classificação: 4/5 estrelas
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